quarta-feira, 25 de maio de 2011

Andador / Anda-já: Perigo Desnecessário!!

Andador: perigoso e desnecessário
Departamento de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria


       No dia 7 de abril de 2007, o Governo do Canadá proibiu a
comercialização de andadores para bebês em todo o país, de-
terminando a total proibição de sua venda, revenda, propagan-
da e importação. Considerou também ilegal vender andado-
res em vendas de garagem, mercados de pulgas e no comércio
ambulante. Recomendou ainda às pessoas que destruíssem e
descartassem todos os andadores.

       Tal fato reacendeu uma velha controvérsia entre pediatras
e pais: o andador é, afinal, uma inocente fonte de prazer e liber-
dade para os bebês ou uma arma travestida de produto infantil 
por meio da qual infligimos traumatismos físicos às inocentes 
criaturinhas?

       A verdade é que o andador continua a ser muito popular e,
contra as recomendações usuais dos pediatras, é utilizado por
cerca de 60 a 90% dos lactentes entre seis e quinze meses de
idade. Os motivos alegados pelos pais para colocarem seus
bebês em andadores incluem: eles dão mais segurança às cri-
anças (evitando quedas), independência (pela maior mobilidade),
promovem o desenvolvimento (auxiliando no treinamento da mar-
cha), o exercício físico (também pela maior mobilidade), deixam
os bebês extremamente faceiros e, sobretudo, mais fáceis de cui-
dar.

       Entretanto, nos últimos tempos a literatura científica tem colo-
cado por terra todas estas teses. A idéia de que o andador é seguro
é a mais errada delas. Há poucos meses, uma pesquisadora sueca,
Ingrid Emanuelson publicou uma análise dos casos de traumatismo
cranianomoderado em crianças menores de quatro anos, que con-
siderou o andador o produto infantil mais perigoso, seguido por equi-
pamentos de playground. De fato, ao longo de mais de trinta anos, as
revistas dicas têm chamado a atenção para o grande risco do an-
dador, que anualmente causa cerca de dez atendimentos nos serviços
de emergência para cada mil crianças com menos de um ano de idade.
Isto corresponde a pelo menos um caso de traumatismo para cada
duas a três crianças que utilizam o andador. Um terço dessas lesões
são graves, geralmente fraturas ou traumas cranianos, necessitando
hospitalização.

       Algumas crianças sofrem queimaduras, intoxicações e afogamentos
relacionados diretamente com o uso do andador, mas a grande maioria
sofre quedas; dos casos mais graves, cerca de 80% são de quedas de
escadas. Nos Estados Unidos, num período de 25 anos, foram regis-
tradas 34 mortes causadas por andadores, um número nada desprezível.
É verdade que o andador confere independência à criança.

       Contudo, todos os especialistas em segurança infantil justamente
insistem que um dos maiores fatores de risco para injúrias físicas é dar
independência demais numa fase em que a criança ainda não tem a mí-
nima noção de perigo. É consenso que a capacidade de autoproteção
só é adquirida a partir dos cinco anos de idade. Colocar um bebê de me-
nos de um ano num verdadeiro veículo que pode atingir a velocidade de
até 1 m/s equivale a entregar a chave do carro a um guri de dez anos.
Crianças até a idade escolar exigem total proteção.

       O andador atrasa o desenvolvimento psicomotor da crian-
ça, ainda que não muito. Bebês que utilizam andadores levam
mais tempo para ficar de pé e caminhar sem apoio. Além
disso, engatinham menos e têm escores inferiores nos testes
de desenvolvimento.

       O exercício físico é muito prejudicado pelo uso do andador, pois,
embora ele confira mais mobilidade e velocidade, a criança precisa
despender menos energia com ele do que tentando alcançar o que lhe
interessa com seus próprios braços e pernas.

Por fim, trata-se de uma grande falácia dizer que a satisfação e o sorriso
de um bebê valem qualquer risco. Defendendo esta idéia, um pai
chegou a sugerir que se os pediatras conseguirem que os andadores
sejam proibidos, como aconteceu no Canadá, a seguir vão querer proibir
patins, skates e bicicletas, terminando com a alegria da criançada. Evi-
dentemente, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Bicicletas, skates
e patins são brinquedos para crianças mais maduras, que já têm condições
de aprender as noções de segurança e responsabilidade e, por isso,
podem se arrojar em atividades com maior risco. Ainda assim, é
sempre importante lembrar que os devidos equipamentos de segurança,
como capacete de ciclista, cotoveleiras e joelheiras, precisam ser
sempre usados. Um bebê de um ano fica radiante com muito menos do
que isso: basta sentar na sua frente, fazer caretas para ele e lhe contar
histórias ou jogar uma bola. 

       Dizer que o andador torna uma criança mais fácil de cuidar revela
preguiça, desinteresse ou falta de disponibilidade do cuidador. Por outro
lado, caso um adulto realmente não tenha condições de ficar o tempo
todo ao lado de um bebê pequeno, é mais seguro colocá-lo num cercado
com brinquedos do que num andador. Vários estudos já mostraram que
cerca de 70% das crianças que sofreram traumatismos com andadores
estavam sob a supervisão de um adulto. Ou seja, nem todo mundo reage
tempo de conter um diabinho que dispara pela sala a 1 m/s. A super-
visão constante da criança constitui a chamada proteção ativa, que
costuma ser muito falha. O melhor é cercá-la de um ambiente protetor,
com dispositivos de segurança, como grades ou redes nas janelas;
estas são medidas de proteção passiva, muito mais efetiva. O andador
definitivamente não se enquadra neste esquema.

       Enfim, sabe-se que existe hoje em dia um movimento muito
intenso na Europa e nos Estados Unidos no sentido de que legis-
lações semelhantes à canadense sejam aprovadas e postas em práti-
ca, uma vez que todas as estratégias educativas têm falhado na
prevenção dos traumatismos por andadores. Enquanto este progresso
não chega ao Brasil, continuamos contando com o bom senso dos pais,
no sentido de não expor os bebês a um produto perigoso e absolutamente
desnecessário.


Para os interessados em informações mais detalhadas sobre o assunto:

• American Academy of Pediatrics. Committee on Injury and Poison Prevention. Injuries associated with infant walkers. Pediatrics.
• Taylor B. Babywalkers. BMJ. 2002;325:612. http://bmj.bmjjournals.com/cgi/content/full/325/7365/612.
• Health Canada. Baby Walkers (Banned) & Stationary Activity Centres. http://www.hc-sc.gc.ca/cps-spc/child-enfant/equip/walk-marche-eng.php

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