sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Orquestra suave

Este é um e-mail que enviei a uma mãe que conheço, que assim como tantas outras, desconhece a verdade por trás da indústria da cesárea e achou naturalíssimo seu filho nascer de cesárea e passar horas afastado dela. Espero que tenha surtido algum efeito, e se não, espero que surta efeito em alguma outra mãe que o leia.


"Oi, *****. Tudo bem?

Há dias que queria te falar, mas, sinceramente, não saberia falar de forma bem clara sem antes organizar bem os pensamentos.
Tô te escrevendo este e-mail porque gostaria que tivessem me dito tudo o que vou te dizer. Teria sido muito mais fácil e rápido, e não teria precisado percorrer o longo e trabalhoso caminho que percorri pra chegar ao ponto que cheguei.

Este e-mail tem a ver com o nascimento. O do teu filho, o da minha filha, e o de tantos bebês que nasceram e que ainda nascerão nesse país.

Quando me disseste a seguinte frase "não planejei nada. Tudo aconteceu como tinha que acontecer" se referindo ao nascimento do teu filho, lembrei que é fato que 90% das mulheres crêem que realmente a cesárea é a melhor forma de trazer seu filho ao mundo, e que o hospital é o local mais seguro para um bebê nascer, e nem sabem da brutalidade que é para um bebezinho indefeso.

Como és uma mulher de mente aberta (acredito piamente que o sejas), que entrou no vegetarianismo como combate aos maus-tratos infligidos aos animais, que sente pena da crueldade como são manejados e mortos, acredito que se souberes a verdade sobre o nascimento, poderás mudar a tua realidade quando decidires por ter outro filho. Não vai mudar o que aconteceu com o ****, assim como não muda o que aconteceu com a Anna Clara.

Bem, *****, até aqui não disse nada ainda, mas lembras do filme Matrix ? Lembras das pílulas azul e vermelha que foram oferecidas ao Neo? Pois então. Agora o que te ofereço é isso. Uma pílula azul e outra vermelha. 
A azul é apagares este e-mail sem sequer ler o resto, nem precisa comentar nada a respeito comigo, nem tocar mais no assunto, pois farei o mesmo e não vou insistir, mas dificilmente aparecerá alguém pra te contar o que quero te dizer.

A vermelha é sair da matrix e continuares lendo até o final. Isso é sem volta, pois transforma demais, muitas vezes dói um pouco até, pode até chocar, mas te garanto que depois a gente passa a ver tudo diferente. Pra mim foi doloroso, chorei e ainda choro por saber que minha filha sofreu e que eu não pude fazer nada pra impedir, estava ainda sob os efeitos dos hormônios do parto e não consegui reagir.

Se escolheste ler, peço que o faças quando tiveres tempo livre e paciência, pois é um pouco longo, vou começar do começo:

Nós vivemos hoje em um mundo onde a medicalização se deu de forma muito intensa, transformando situações fisiológicas em atos médicos. As pessoas passaram a acreditar que os médicos fazem o que é melhor para nós. Ledo engano. Os médicos, em sua maioria, se tornaram médicos não por amor ao próximo, mas pelo status e dinheiro que a profissão proporciona, e dessa forma, quanto mais rápido o atendimento, mais pacientes serão atendidos e mais eles recebem.

Com o parto eles não agem diferente. Para eles, é muito melhor uma cesárea que um parto normal. Quanto achas que um obstetra recebe por um parto normal e por uma cesárea? No parto normal o trabalho do obstetra se limita a avaliar a saúde da mãe e do bebê (o que pode ser feito por outros profissionais, como enfermeiros e técnicos de enfermagem), segurar o bebê, cortar o cordão e vez ou outra suturar uma laceração no períneo da mulher.Quase não dá trabalho, então não há justificativas para grandes custos. Além disso, um trabalho de parto pode levar muitas horas, obrigando o obstetra a desmarcar consultas e outros compromissos, além de às vezes ele ser acordado no meio da noite pra atender à parturiente. Já numa cesárea, precisa de uma equipe maior, precisa de um anestesista (que pode ser um grande amigo do GO e estar precisando de uma graninha..) do uso de instumentos cirúrgicos (e para tal mais um profissional: o instrumentador), corta-se 7 camadas de tecido da barriga da mulher (isso mesmo, são 7) todas elas terão de ser costuradas depois, uma a uma, há prescrições de muitos medicamentos... Os custos são elevados e o GO (ginecologista obstetra) recebe mais por isso, além de o médico saber o dia exato e a hora em que o bebê nascerá, a cirurgia dura cerca de 30 minutos e pronto.

Agora vou falar um pouquinho porque o parto normal é tão importante para o bebê.

Bem, desde a concepção, cada indivíduo é único, e a partir da 8ª semana cada embrião passa a se desenvolver em seu próprio ritmo, que varia de um embrião para outro. Geralmente por volta das 12 semanas já tem todos os seus órgãos e tecidos formados, e a partir daí o que ocorre é o desenvolvimento, crescimento e maturação de cada órgão. O último a amadurecer é o pulmão, e é o total amadurecimento dele que dá o start para a mulher entrar em trabalho de parto. Isso ocorre em períodos diferentes em cada bebê, por isso mesmo que o período de gestação varia tanto de uma mulher pra outra, chegando ao fim para algumas em torno das 38 semanas, e para outras podendo passar de 42. Essa maturação dos pulmões não tem como se prever, nem como ser avaliada em uma ultrassonografia. Quem avisa quando ela está completa é o próprio bebê, liberando uma substância que dará início ao trabalho de parto, avisando à mamãe que ele está pronto pra nascer.

O trabalho de parto começa, e então as contrações vem como ondas, massageando o corpinho do bebê e preparando o seu pulmãozinho para trabalhar fora da barriga. Cada contração o prepara e o avisa que logo ele estará nos braços de sua mãe. A ocitocina liberada pela mãe atravessa a placenta e faz com que o cérebro precise de menos oxigênio, facilitando o período de adaptação ao meio externo, enquanto ele terá que aprender a respirar sozinho. Durante a passagem pelo canal vaginal, o tórax do bebê é naturalmente comprimido, expulsando de suas vias respiratórias todo o líquido aminiótico, ajudando-o ainda mais a respirar no meio externo. O cordão umbilical ainda pulsa por alguns minutos, levando oxigênio da placenta para o seu organismo para que não lhe falte oxigênio enquanto se acostuma a respirar sozinho. É tudo perfeitamente orquestrado para que o bebê tenha uma adaptação suave e indolor.

Agora vê a cesárea eletiva: geralmente ela é marcada para ocorrer na 38ª semana. Muitos bebês ainda não estão com os pulmões totalmente maduros. Eles não são preparados para nascer e nem sabem que isso acontecerá. Ele está lá, no cantinho dele, onde é escuro, quentinho e confortável. Durante a anestesia, a maioria dos anestesistas administram junto morfina. Tanto a anestesia quando a morfina passam através da placenta e chegam à corrente sanguínea do bebê , dopando-o, e trazendo junto o risco de sofrimento fetal e morte neo-natal por anafilaxia. De repente ele é arrancado de dentro de sua mãe, com um tracionamento em sua cabeça que pode provocar uma lesão em nervos cervicais com risco de perda de movimentos dos braços, sem ter tido nenhum preparo, e é exposto de forma brusca às novas condições, ao ar-condicionado da sala cirúrgica, às luzes fortes que foca o campo de cirurgia, com suas vias respiratórias entupidas, mal conseguindo puxar o ar, e logo o cordão umbilical é cortado, pois terão de fechar a barriga rapidamente para diminuir o risco de infecção e hemorragias na mãe. O bebê ainda não respira direito, e não há mais fluxo de oxigênio vindo da placenta. Os pulmões doem, ardem, ele se sente sufocado. E a mãe, anestesiada, dopada, mal consegue reconhecê-lo e não é capaz de ao menos lhe dar colo em seu primeiro momento de dor e angústia.

Consegues ver?

Aqui estão os principais riscos que ela (a cesárea) oferece ao bebê:

* Risco de desconforto respiratório e doença pulmonar de membranas hialinas
*Risco de prematuridade fetal, uma vez que cada indivíduo se desenvolve de forma diferente, além do risco de erro de data e de ovulação tardia.
* Risco de morte aumentado em até 10x se comparado ao parto normal.
* Risco de cortes acidentais
* Probabilidade maior de desmame precoce
* Dificuldade de aleitamento (a ocitocina liberada durante o trabalho de parto é quem dá início à descida do leite)
* Demora para estabelecer vínculo com a mãe, uma vez que esta está sob efeito de anestesia.
* maior índice de internação na UTI neo-natal.

Agora vou te falar o que eles fazem com TODOS os bebês nos hospitais, sejam eles nascidos de parto normal ou cesárea. Estes procedimentos são chamados de procedimento padrão, e são aplicados sem critério algum em todos os bebês, mesmo quando não há necessidade, pois fazem parte do protocolo dos hospitais em geral. Fizeram com a minha filha a maioria deles, com o teu filho, e com os filhos de muitas e muitas mulheres, e chegam ao limite da crueldade.



Aspiração das Vias aéreas
Cânula
Anal
Injeção de Vitamina K
Colírio de Nitrato de prata
Banho logo ao nascer
O que é e para que serve
Serve para quando o bebê não consegue respirar, aparenta estar engasgado. Enfia-se uma sonda nas narinas e na garganta, e geralmente com uma seringa o líquido é aspirado
Para verificar se há orifício anal  e às vezes extrair mecônio.
Injeção aplicada na coxa do bebê para prevenir a síndrome hemorrágica do recém-nascido
Para evitar contaminação por gonorréia
Não serve pra nada
O que se sente
 É desconfortável e doloroso, podendo causar lesões nas mucosas nasais e laríngeas.
Desconfortável e invasivo
Dolorosa.
Arde muito, e muitas vezes causa uma conjuntivite (que dói) no recém-nascido durante  primeiro mês de vida
Muitas vezes o banho é dado frio, e esfrega-se com força para remover o vérnix.
Real necessidade
Só é necessário quando o bebê apresenta dificuldade para respirar, após cesárea, ou quando há aspiração de mecônio (primeiro "cocô")
totalmente desnecessário em todas as ciscunstâncias.
A vit K é necessária, porém já existe a versão oral, menos invasiva e indolor, porém não é oferecida nas maternidades
Só é necessária em casos de parto normal em que a mãe tenha gonorréia. Caso ela não tenha, é totalmente dispensável, e no caso da cesárea não corre risco de contaminação.
O bebê acaba de vir de um meio estéril, e coberto por vérnix, rico em vit K, que é absorvida pela pele. Muitas vezes o primeiro banho é dado em água fria (os recém nascidos ainda não tem o sistema termo-regulador totalmente desenvolvido, correndo risco de sofrer hipotermia
aqui segue um link com um vídeo para mensurares o que diz a tabela. Ele tá em espanhol pois foi filmado na argentina, onde os hospitais seguem os mesmos padrões que aqui no Brasil. Ele trata dos direitos humanos a que a mulher e o bebê tem, e que não são respeitados.

Esses minutos que ele passou sendo avaliado e invadido eram minutos preciosos que ele deveria ter no colo de sua mãe.

Toda fêmea mamífera, ao parir sua cria, seu instinto lhe diz que ela deve acolher, lamber e dar de mamar, oferecendo amor e proteção. Por que com nós, mulheres, e com nossos bebezinhos, tem que ser diferente? Ao nascer, eles nos são arrancados, sendo levados para longe, quando tudo o que eles querem é o aconchego, o amor e a proteção da mãe. Têm seus corpos violados e agredidos. Imagina o que um bebê sente ao passar por tudo isso...

É por isso que muitas mulheres optam por terem seus bebês em casa, pois só assim estarão resguardados e protegidos de sofrerem tais abusos.

*****, se leste até aqui, não acredito que não tenhas sentido nada ao saber de tudo isso. Se leste e consegues visualizar tudo o que escrevi, e sentes pelo teu filho e pelos filhos de todas nós, e quiseres saber mais, tirares dúvidas, existem vários sites, blogs e listas de discussão, e eu também tô aqui..  o site partodoprincipio.com.br tem muita informação.

Sou frequentadora de um grupo de apoio à gestação, parto e maternagem, o Ishtar, que tem encontros quinzenalmente. Lá conheci diversas mulheres que saíram dessa matrix  da maneira mais trabalhosa e árdua, que lutaram pelos seus ideais, e que continuam lutando para que outras mulheres e bebês não continuem passando por tantos maus-tratos.

Espero que tenhas mudado tua forma de ver o nascimento.

Beijos."

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Relato do Meu Parto - Nascimento de Anna Clara


Esse é o relato do meu parto, do dia em que EU pus minha filha no mundo. Muita coisa ainda tá faltando, mas sinceramente, os hormônios do parto nos deixam meio grogues, que tem coisa que ainda não consegui lembrar, então quando for lembrando, vou acrescentando. Espero que ainda este ano fique pronto! rsrs

Vou começar bem pelo iníco.

Conheci Ricardo ano passado, em meados de Junho, em plena Copa do mundo. Almoçamos algumas vezes juntos,  eu trabalhava bem pertinho do trabalho dele, e almoçávamos no mesmo restaurante. Foi lá que nos vimos pela primeira vez, ele sentado sozinho, e eu com um colega pedindo o almoço no balcão. Ao sair de lá e vi que ele me olhava. Olhei pra ele, sorri, mas continuei andando. Minutos depois o telefone do meu trabalho toca: era ele! Pesquisou pela internet o telefone de lá! Foi assim que tudo começou, e foi tudo muito rápido: nos conhecemos, nos gostamos, ficamos, resolvemos namorar, passava mais tempo na casa dele, praticamente morávamos juntos. Então resolvemos oficializar o negócio e nos mudamos. Mas desde o começo pensávamos em ter uma filha, menina, que se chamaria Anna Clara. Menos de um mês depois da mudança, comecei a sentir o cheiro do sabão líquido diferente, e tive logo a certeza: grávida. Fizemos um teste de farmácia juntos, e deu positivo. Ai, que nervoso!! Eu queria, mas não sabia se seria boa mãe, se estava preparada.. Ricardo me abraçou, me deu colo e me tranquilizou.

Desde então tive praticamente certeza que seria uma menina, e às 12 semanas, na tal ultra com translucência nucal, o ultrassonografista diz que "havia grande possibilidade de ser menina", palpite esse confirmado às 16 semanas, pelo Dr. Flexa.

Sonhava com um parto normal. Pra mim, cesárea só se for necessário de verdade. E acreditava que era só esperar o momento acontecer, que chegaria ao hospital e me deixariam parir na boa.

E assim seguimos na nossa gravidez. Sim, digo nossa porque Ricardo realmente a viveu comigo, até jejum fazia junto quando eu tinha algum exame pra fazer. A gravidez foi tranquila, apesar de tanto enjôo e falta de ar. Troquei de GO com 20 semans, porque a anterior não aceitaria o parto normal, riu da minha cara e disse que duvidava muito que eu, às 3:30 da manhã, morrendo de dor, não imploraria por uma cesárea. Então não contei conversa e fui atrás de quem topasse assistir meu PN. Não queria que minha bebê fosse arrancado da minha barriga como se fosse um apêndice infeccionado! Não! Minha filha teria que ser preparada pra nascer, e eu para deixá-la sair de mim. Precisávamos desse momento, dessa despedida, dessa entrega e batalha de ambas! Foi pela internet que descobri a Dra Neila Dahás e o grupo Ishtar, que me ajudou muito pôr pra fora todos os meus medos e angústias. Encontrei o site da Parto do Princípio, onde li e reli muitos relatos dos mais variados tipos de parto, e pelos quais chorei de emoção.

Participei ativamente da lista de discussão da Parto Nosso, lia muitos artigos sobre tudo que fosse relacionado a parto, criei um blog (este aqui) pra compartilhar com outras mulheres tudo o que eu aprendia. Eu realmente me preparei pra parir, e estava certa que conseguiria!!

Quarta-Feira, 22/07: 39 semanas. Consulta com a GO. Tava tudo ok, até ela pedir pra fazer um toque. Detectou 1 dedinho de dilatação. Como diz a Thayssa (doula e coordenadora do grupo Ishtar): dilatação sem trabalho de parto é bônus! Aí o toque começou a ficar dolorido e reclamei. Disse "já acredito na senhora que tem 1cm, pode deixar! Tá doendo já!". Aí ela tirou o dedo e disse que tava tentando fazer o descolamento de membranas (opa?), segundo ela, "pra ver se adiantava um pouco as coisas", mas a dilatação era muito pouca e ela não conseguiu alcançar. Ela pediu que eu fizesse uma ultra na segunda feira e levasse pra ela no mesmo dia. Não entendi essa atitude de tentar uma manobra sem me consultar e me irritei. Cheguei em casa e tinha um pouco de sangue na minha calcinha. Chorei de raiva! Se buscava o PN era porque queria respeitar o tempo de minha filha e não tinha pressa alguma de parir logo.

Me deu enorme vontade de buscar um PD, mas confesso que não me empenhei para tal. Como tudo aconteceu rápido demais em nossa união, Ricardo e eu não poderíamos assumir essa dívida àquela altura. Também já estava em cima da hora pra buscar acompanhamento com parteiros. Ainda fiquei ensaiando um desassistido, tipo, quando entrasse em TP ficaria na minha enrolando pra ir pro hospital, e deixaria acontecer em casa mesmo. Eu fiquei muito balançada a fazer isso.

Desconfiei demais dessa ultra no final de uma gestação que tinha sido tão saudável, e não quis fazer. Também fiquei com medo de ela mais uma vez tentar fazer algo, então não fui. Enrolei o quanto pude, até que comecei a notar minha calcinha um pouco molhada, e resolvi ir na Sexta-feira, 9 dias depois, fazer a ultra, já com 40 semanas e 2 dias.

Sexta-feira, 01/07: 40 semanas e 2 dias de gestação. ultrassom pela manhã com o Dr Flexa, tudo perfeito, Anna Clara super saudável. Ele se surpreendeu por eu já estar com 40 semanas e 2 dias, perguntou se eu iria esperar pra "ter normal", ao que respondi que sim, e ele "mas olha, já tá no limite. Não dá pra esperar mais". Não? por que? tem prazo de validade pra ficar na barriga? Bah! À tarde consulta com a Dra Neila e tudo ótimo. Fez o toque, colo grosso, 1 dedinho de dilatação. E então a bomba: Dra Neila viajaria no domingo e só voltaria na quinta ou sexta-feira seguinte, oq me deixou bastante preocupada, pois se entrasse em TP enquanto ela estivesse longe não saberia quem assistiria meu parto, nem se me deixariam parir. Ela sugeriu a indução, mas não me deu nem tempo pra pensar. Se fôssemos induzir, seria internada já naquele momento. Decidimos induzir. 

Caaaaara, quando li na guia de internação "dieta líquida", pedi pro enfermeiro aguardar um instantinho pra eu comer alguma coisa antes. rsrs.

Quando chegamos no quarto, um enfermeiro veio com umas sapatilhas e touquinha e roupinha esquisita, aí perguntei pra ele "pra que isso", então ele perguntou "o que você veio fazer aqui?". respondi que tinha ido pra ter minha bebê, ué...". Ele pediu desculpa e disse que achava que eu iria pra cesárea.. Aí veio uma enfermeira perguntar se eu tinha feito a tricotomia... me fiz de besta e disse "quê?", aí ela "você já raspou lá?". respondi que não, que não seria necessário... Enquanto isso Ricardo tinha ido pra casa buscar nossas coisas, que espertamente arrumei no mesmo dia, pela manhã, pois achava que seria naquele dia que entraria em TP. Às 18h foi inserido o primeiro comprimido de Misoprostol. me serviram só um copinho de suco de alguma coisa, e mais nada. pedi pro Ricardo (maridão) ir lá fora comprar umas besteiras pra eu comer escondido. e o trabalho de parto, nada... às 00h foi introduzido o segundo. Por volta das 3:30 da madrugada acordei enquanto sonhava com uma dor, e não é que já eram as benditas contrações? Meu marido acordou, comemoramos e ficamos muito felizes. Elas estavam bem regulares, não sei de quanto em quanto tempo, mas ainda meio suaves. Fui para o chuveiro e fiquei rebolando debaixo dele pra estimular a dilatação. 4:30 liguei para a Thayssa (doula), pois não sabia se deveria avisar a Dra ou não (A Dra tinha tido um dia muito cansativo, tava com uma caaaara na noite anterior.. preferi deixá-la dormir mais para que ela tivesse mais paciência. rsrs)

Eu, Thayssa (doula) e maridão.
A Thay chegou acho que umas 5 e pouco, quase 6h. Chegou já com as mãos nas minhas costas, massageando durante a contração que tinha acabado de começar, debaixo do chuveiro. Fui pra bola, mas doía mais, pra cama, pro chuveiro, rebolava.. Até então não sabia direito como era esse papo de vocalização, mas descobri por conta própria, e a cada contração eu me entregava, vocalizava, me concentrava.

Amanda (doula)
Depois chegou a Amanda, tirando fotos e mais fotos. as meninas mandaram preparar um chá de canela pra potencializar as contrações, e a Thay teve que ir embora pro encontro do Ishtar =). Mas a Amanda segurou muitíssimo bem. Caminhávamos pelos corredores do hospital, as pessoas olhavam estranho, perguntavam, cochichavam. era tão engraçado aquilo!! quando vinham as contrações, a Amanda massageava minhas costas enquanto eu me agachava de cócoras ou rebolava com as mãos na parede pra ajudar o colo a dilatar.

Os enfermeiros do bloco se recusaram diversas vezes a fazer a ausculta da minha bebê, e acabaram mandando o sonar pela Amanda, e nos viramos pra checar os batimentos da Anna. Mas tudo bem, eu tinha certeza de que estava tudo bem com a nossa princesa. Aquele era o NOSSO momento, dela, meu, e do Ricardo. Todos estávamos muito bem, obrigado!

9h da manhã: Dra Neila chega pra checar como iam as coisas. colo fino, 2cm. Ela disse que prescreveu o misoprostol mas que não tinha acreditado que daria certo, não foi sincera comigo, pra ela acabaria em cesárea, mas a força de vontade de mamãe era muito grande!! Tudo ok. Passamos o resto da manhã assim: dançando (botei pra tocar uns reggaes e reggaetones) e rebolando debaixo do chuveiro, passeios no corredor vendo várias mulheres vindo do centro cirúrgico após mais uma cesárea..












Meu marido me acalmava, revezava com a Amanda nas massagens, segurava firme minha mão e me abraçava. A Amanda disse que estávamos "tão fofos" que ela não resistia e se danava a tirar fotos. Chegou o almoço, uma sopinha batida no liquidificador "maravilhosa"..


batendo um rango básico.
depois o cansaço começou. Dormi (e eu que não acreditava ser possível dormir entre as contrações), mas quando vinham as contrações eu acordava com uma dor muito maior. Meu marido me abraçava e eu pedia pra ele "amor, por favor, não me deixa desistir!", ele dizia que eu não iria desistir, que eu estava sendo maravilhosa, forte, que tudo iria dar certo. Como é importante o apoio moral nessas horas! Com as sonecas, as contrações ficavam mais espaçadas, aí eu corria pra dançar debaixo do chuveiro de novo pra normalizar! hehe

14:30: Dra Neila vem de novo, 6cm de dilatação. Nossa!! Fiquei super feliz!! Mas aí ela tinha um negócio de querer ficar com a mão enfiada em mim, pra "sentir as contrações" por lá por dentro. Deus, como isso doía! Aí quis ajudar mais o negócio: fui pro chuveiro de novo. Aí tive a "brilhante" idéia de sentar na banqueta de cócoras que a Thay tinha levado. peeeeense numa dor f***da!! daí a vocalização virou choro, mesmo. O Ricardo veio ver se tava tudo bem, me beijou, disse que eu tava indo muitíssimo bem. Desisti da banqueta!! Definitivamente achei que aquilo lá não era pra mim.

Vomitei. Amanda disse que era ótimo, que é porque eu iria parir logo! Nunca me senti tão orgulhosa por ter vomitado! hehe

16h: novo toque, 8cm. PER-FEI-TO!! 2cm de dilatação em uma hora e meia!! mesmo com contrações irregulares e espaçadérrimas. Aí de novo aquele lance de sentir as contrações com os dedos enfiados em mim.. a Dra Neila resolveu romper a bolsa "pra apressar as coisas". Nossa! Aquilo quentinho escorrendo.. tão bom... Eu tava tão feliz!! fomos pro bloco, todo mundo andando, eu com a camisolinha de "bunda-de-fora", meu marido segurando pra não aparecer a calcinha pink.. quando chegou a hora de entrar no bloco, tive que pedir pra esperar pq veio nova contração. Ah, que felicidade!! Não tive que ir pra sala cirúrgica graças a Fofíssima Paula que havia parido na sexta de manhã na sala de recuperação pós-anestesia!! Imaginem: 1º de Julho, sexta feira.. tudo que era cesárea marcada praquele dia, e a bebê da Paula resolve nascer às 34sem, e um parto normal em uma salinha pq as salas cirúrgicas estavam lotadas por cesareadas!! E foi pra lá que a Neila me levou, mesmo o bloco estando todo vazio, só pra gente!!

Eu com 10cm de dilatação, ainda "social" .
Mas aí foi constatado: 10cm!! Dilatação total, porém Anna Clara não descia, não chegava no colo.. A dra passou a desconfiar de desproporção céfalo-pélvica, ficou com medo e disse que se não nascesse em 15 minutos, iríamos pra cesárea. Dra Neila resolveu tacar ocitocina. Mas como parir em 15 minutos se nem no expulsivo eu estava ainda? Fiquei muuuuuito triste, aquilo acabou comigo, mas eu mesma falei, pra tentar me convencer mesmo de que estaria ok pra mim, que eu havia tentado, que minha filha tinha passado por todo o processo, e que se fosse necessário, iríamos pra cesárea. Daí o relato fica meio confuso, porque com ocitocina eu literalmente pirei.

Na primeira contração com ocitocina eu quase tive um treco! Égua!! muito mais forte, mais doloroso!! Eu comecei a enlouquecer.. "Tira!! Tira isso de mim!!". eu não vocalizava mais, eu era só gritos, berros e pavor!! Me fechei toda, pro mundo e pro parto, e a Dra puxando as minhas pernas, e mandando eu fazer força. Força sem sentir os tais puxos, caraca, como é horrível. Eu gritava "Bora, Anna Clara! Ajuda a mamãe!!" . Amanda tentou fazer massagem em mim, mas acho que acabei enxotando ela nessa hora. Não queria nem que encostassem em mim. A posição que doía menos era de quatro, mas aí começou a edemaciar o colo.. aff!! Precisava parir rápido senão seria cortada..Fiquei realmente enlouquecida. Aí uma voz falou pra mim "é a fase de transição". Acho que essa voz vinha dos relatos e das discussões do Ishtar e da Parto Nosso. A Neila tentava manter minhas pernas abertas, e eu me fechava, me contorcia, gritei por anestesia, não queria mais aquilo. Pedia pra tirar a ocitocina, mas fui completamente ignorada. E ainda levei escroteada, ela disse que eu estava estrapolando, exagerando. como assiiiiim?? eu que tava sentindo a dor, e não podia extravasar?? Perguntei se a anestesia atrapalharia, a Neila disse que não e mandou chamar o anestesista. Ricardo e Amanda dizendo que eu era forte, que eu já tinha aguentado até ali, só faltava mais um pouquinho.. E eu "Não! Eu não quero mais!! Anestesia, pelo amor de Deus!!" (eu já havia explicado algumas vezes ao Ricardo que essa hora chegaria, que eu iria desistir e pedir anestesia, que todas passam por isso e que quer dizer que o final está próximo, mas pedi que quando esse momento chegasse, era pra ele ignorar e me convencer do contrário, porque eu realmente NÃO queria anestesia). Cheguei a perguntar se já dava pra irmos pra cesárea, acreditam? Depois de tanto ter lutado pelo PN!! E nada do anestesista chegar! pra mim parecia que o tempo não passava (depois Amanda me falou que tinham sido só uns 10 minutos). contrações horrorosas e uma atrás da outra! Achava que tinham me enganado e que não viria anestesista nenhum.. Só depois fui saber que ele chegou quando a Anna nasceu, e nem precisei dele.. 

Fomos pra banqueta em algum momento, não lembro onde a médica tinha ido nessa hora, as coisas continuavam loucas. De alguma forma, quando meu marido tentou ajeitar o soro, a sonda soltou da agulha, que continuava na minha veia, e ficou escorrendo sangue. A doula tentou colocar de volta, mas aí o esparadrapo embolou, me irritei e arranquei com tudo. Quando a GO voltou e viu aquilo, nova bronca, porque, segundo ela, eu precisava da ocitocina, e pra ela eu tinha arrancado de propósito o soro. A Amanda com a câmera na mão, eu gritei que não queria fotos, e a danada me enganou bonitinho. disse que não estava tirando fotos, e realmente não estava: tava filmando tudo!! (obrigada, Amandaaa!!) A Dra Neila me deu mais umas esculhambadas, que não me lembro direito... sentia ela mexendo em alguma coisa lá dentro, e isso doía ainda mais no meio das contrações, mas acho que ela tava tentando ajudar a Anna a girar, sei lá.. Mandava eu fazer força, empurrar o chão com os pés, mas eu não sentia a mínima vontade. Até que veio: a tal vontade de fazer força, os puxos.. Eu falei que estava sentindo diferente. Aí que ela falou: "tô vendo o cabelinho! é preto!!" Aí tudo mudou!! Meu mundo mudou, a dor mudou, ficou tudo diferente! Ri pro meu marido e disse "ainda bem, né?" pq ele e eu temos o cabelo preto.. Perguntei se ele tava vendo, ele disse que sim, aí eu virei fêmea de novo!! voltei a vocalizar, quase urrando mesmo, fazendo força pra minha filha sair. Ele segurando minha mão, Amanda me apoiando pelas costas. Quando a vontade passava, eu relaxava, a coitada da Amanda me segurando e se escorando na parede, tadinha.. A Cabecinha começou a vir! Nossa! Como ardia! Mas a mesmo tempo meu corpo todo se inundava de felicidade (no vídeo dá pra ver que a partir daí eu só sorria) Nessa hora ouvi de novo alguém me dizendo "é o círculo de fogo". Ricardo, como sempre, me segurando a mão, me dando força..

Ai, eu disse "tá rasgaaaaando". Neila: "Não tem nada rasgando..."

A Neila julgou necessário uma episio, e deu sem dó nem piedade 3 cortes, sem anestesia! pultz! gritei e disse "doeu!".. Não esperava que fosse assim..

Mais força, Neila dizendo "força", Ricardo fazendo côro. Ele disse "tô vendo ela! Tô vndo ela".. senti a Anna girar, (eu sorrindo) o ombro passar, ela girou de novo, e saiu todinha!! Que felicidade!! "Seja muito bem vinda, minha querida!" disse Neila.. E Ricardo "kédu, pai, kédu".. Às 18:08 do dia 2 de Julho, nasceu a menina que veio pra me mudar completamente! A Neila botou ela direto no meu colo, toda sujinha de sangue, vermelhinha, parecia tão miudinha!! Na verdade, a miudinha era "porrudona": 53cm, 3,685g. O cordão era curto demais (segundo Amanda, 1 palmo) então precisei me enclinar pra frente pra segurá-la! O tempo parou! Ela me olhava, sem chorar, não deu um piu! o Ricardo aqui no meu obro, olhando pra ela.. Nós três naquele momento, só nós três.. não existia mais nada!!  Tão linda!! Naquele momento nascia Anna Clara, nossa princesa, mas nascia junto uma nova família, e uma nova mulher, uma nova Ana Paula, agora MÃE!

Até que a antipática da pediatra ficou enchendo o saco pra tirar minha filha, e acabaram levando ela. Acho que Amanda que foi atrás, acho que eu pedi. Eu fiquei extasiada, tinha conseguido!! Ricardo em lágrimas, e eu sorrindo... "Consegui, amor.. Eu trouxe nossa filha.." Agora o parto da placenta. Não demorou quase nada, nem doeu. Saiu inteira, grandona também. Aí disseram que era pra me levarem pra sala cirúrgica pra fazer a revisão do períneo, a sutura e tals. Me levantei pra ir andando, aí alguém disse que eu tava sangrando, mas não quis nem saber: otei a camisolinha entre as pernas e saí andando mesmo pra sala, subi sozinha na maca e me ajeitei lá. Aí entrou a Thayssa, e lá vem o Ricardo com a nossa linda bonequinha nos braços. Mas como era lindaaaaa!! A Thayssa pegou ela, e eu tirei fotos delas, aí ela botou a Anninha no meu peito pra mamar.
Mamou até chegarmos no quarto. =D.  Eu também fiquei faminta! Comi a comidinha sem graça do hospital como se estivesse no melhor restaurante! hahaha

Primeira noite, quem disse que ela quis dormir no berço? Eu tava cansada, foram 14 horas e 38 minutos de trabalho de parto e parto, eu precisava dormir. Disse pro Ricardo que ela dormiria comigo, na cama do hospital. E assim dormimos. 5:55 da manhã, eis que uma enfermeira surge pra dar banho na Anna, e eu respondi: "ela não vai tomar banho agora!". Ela: "Tudo bem, mas depois o banho fica por responsabilidade da mãe.". Ué, mas eu não acabei de parir? Qual seria o problema em EU dar banho na minha filha, na hora que nos fosse mais conveniente? Deixei minha filha dormir mais, afinal de contas, ela tinha acabado de nascer, ela também trabalhou junto comigo o tempo todo! Ela acordou só 8h da manhã, e às 10h recebemos alta hospitalar., mas antes, uma enfermeira entrou, caminhou lentamente até mim, eu na cama com minha filha no colo, e quando chegou bem perto olhou pra Anna e perguntou "foi cesárea, né?". Eu disse "não! foi normal." Ela balançou a cabeça desconfiada e saiu da mesma forma como entrou. Acho que eles haviam feito um bolão!! hahahaha

 Cara, indescritível a sensação de sair de lá andando normal, com minha filha nos meus braços, como se tivesse ido lá só para buscá-la! rsrsrs

Chegamos em casa, com aquela coisa linda.. Ah, que vida maravilhosa!! Agora somos uma família!

O que achei de parir? Maravilhoso!!! tive um belíssimo TP, com todo o apoio e carinho do homem que amo, com toda a atenção que Amanda podia me dar, com total privacidade e liberdade pra fazer o que eu quisesse. Às vezes nem acredito que foram mais de 14 horas. Não pareceu. Curti tanto aquele dia, que pareceu que passou rápido. Se quero de novo? Lógico! Não troco por uma cesárea fria, não abro mão de protagonizar o meu parto, de ser eu a trazer minha cria ao mundo. Mas quero mais, quero melhor! Já planejamos que o próximo será um PD, viu?

Parir transforma, nos faz "outra". Hoje vejo e revejo meu vídeo, minhas fotos. Sempre choro, às vezes algumas intervenções me deixam triste, mas NADA tira o mérito de EU ter conseguido. Nada é capaz de estragar a felicidade daquele momento.

Gente, eu não esperava por isso: não sabia que o amor que iria sentir por ela seria tão grande assim, chega a doer às vezes!!

Depois veio a saga da amamentação e da alergia alimentar, mas ficam para próximos posts.. ;D

Parir é momento de felicidade e gozo. Dói? Dói. Mas é a dor mais linda que existe nesse mundo.

Parir é dor de vida, e de morte também. Sim, porque naquele momento morre uma mulher e nasce uma mãe, morre uma gravidez e nasce um bebê. É dor de medo e de prazer, dor de luz, e quanta luz!!

Obrigada a todos que tornaram meu parto possível, com participação direta e indireta. Obrigada ao meu amor, Ricardo, por ter me apoiado completamente e incondicionalmente em cada decisão, por ter participado tanto daquele dia mágico, por me amar tanto e ter aceitado presenciar aquele momento lindo. Obrigada Amanda e Thayssa por terem me doulado. Obrigada Amanda por todo o carinho. Obrigada Neila por ter deixado Anna nascer tão lindamente, por tê-la recebido nos braços com felicidade. Obrigada meninas das listas que tanto torceram, me auxiliara na busca pelo meu parto, e às que fizeram corrente positiva quando a indução foi anunciada.